A grande movimentação no chat do evento online deixou claro porque o emissário submarino é um assunto que desperta tanto interesse e dúvidas. A mesa-redonda “Desmistificando o emissário submarino” trouxe essa discussão no último dia do 10º Encontro Técnico Casan.
Com a mediação do engenheiro sanitarista Felipe Trennepohl, da Divisão de Políticas Operacionais de Esgoto da Casan, em cerca de duas horas de conversa os especialistas mostraram que os emissários são uma eficiente alternativa para o destino final de efluentes sanitários em regiões costeiras. O sistema é utilizado em diversas partes do mundo, sendo que no Brasil há cerca de 10 emissários submarinos em funcionamento.
A Casan tem projeto para a implantação do Sistema de Disposição Oceânica do Sul da Ilha – o Emissário Sul da Ilha, e atualmente desenvolve novos estudos solicitados pelo IMA para dar continuidade ao processo de licenciamento ambiental.
Mas o que são emissários submarinos? Segundo o sócio-fundador da Echoa Engenharia em SC e presidente da Acesa, Vinícius Ternero Ragghianti, são sistemas de tratamento e disposição final de efluentes, que utilizam a capacidade de diluição, depuração e decaimento bacteriano dos oceanos. Para explicar o funcionamento deste sistema, ele fez uma ampla apresentação dos componentes e de informações técnicas.
Vinícius explicou também a diferença de métodos de construção dos emissários. O método tradicional, com a tubulação passando pela praia, já é considerado ultrapassado e não é mais aceito pela sociedade. Já com o método não destrutivo, a tubulação passa por baixo da praia, quase sem ser percebida pelas pessoas. Embora corresponda a uma operação complexa para o lançamento da tubulação no mar, com a participação de mergulhadores profissionais, é um método mais econômico, que gera menos impacto e que viabilizou muitos projetos de emissários no mundo.
Para o engenheiro, o receio das pessoas com os emissários vem do desconhecimento. “Emissário é ciência, é uma tecnologia consolidada no mundo. Em termos de poluição, a preocupação que temos que ter com um emissário é a mesma que temos com uma estação de tratamento, é necessário que estejam em funcionamento dentro dos parâmetros técnicos”, destacou Vinícius.
O pesquisador da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP) da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Renato Castiglia Feirosa, apresentou o caso do emissário submarino da Barra, no Rio de Janeiro. De acordo com ele, a discussão sobre o emissário começou na década de 1980, quando houve uma grande pressão popular motivada pelo receio da estrutura contaminar o oceano.
A demora no projeto dos emissários acabou afetando o sistema lagunar (lagoas da Tijuca, de Jacarepaguá e de Marapendi) que hoje se encontra em estado de degradação em função do lançamento de despejos. “A reticência com o emissário acabou com um ecossistema muito mais sensível e com uma grande biodiversidade”, afirmou Renato.
A principal questão, explicou o pesquisador, é a capacidade de diluição e depuração. Diferente do oceano, que tem uma enorme capacidade de diluição e dispersão, as lagoas têm pouca capacidade de renovação, pois o volume de troca de água com o mar é limitado. “Impacto sempre vai ter. Agora é preciso avaliar o que é melhor em termos de saúde pública e riscos ambientais. Os estudos mostram que, com o emissário, o risco de contaminação humana é muito baixo. E na Austrália, país em que o sistema é bastante utilizado, comprovou-se que a qualidade da água do mar melhorou consideravelmente”, relatou.
Gerente do Grupo de Modelagem Ambiental da BMT em Brisbane, na Austrália, o consultor Daniel Botelho falou um pouco da experiência dos emissários submarinos no país. A Austrália passou a investir nos emissários na década de 1990 como uma preparação para as Olimpíadas de Sidney, realizada em 2000. Somente na região metropolitana de Sidney existem 17 emissários submarinos.
Para Daniel, os emissários podem ser descritos como um componente de engenharia projetado para o lançamento de efluentes em um ambiente receptor de maneira a integrar um sistema de coleta, tratamento e disposição dos mesmos, satisfazendo as necessidades das políticas de saneamento, atendendo os anseios da sociedade em relação à saúde pública e proteção do meio ambiente.
Neste contexto, os emissários têm papel central no sistema de saneamento, por permitir o lançamento de efluentes tratados, separando o esgoto das pessoas e dos ecossistemas mais sensíveis. “O emissário não existe no vácuo, ele faz parte do sistema de coleta e tratamento de esgoto que já está atendendo a demanda da saúde pública”, resumiu, lembrando que os emissários envolvem conhecimentos multidisciplinar, que vão desde engenharia civil, oceanografia, climatologia, sedimentologia, qualidade da água, até legislação ambiental, saúde pública e gerenciamento costeiro.
Segundo Daniel, na Austrália foi feito um estudo das 15 maiores ameaças à área costeira e o esgoto não aparece na lista, que é liderada pela água pluvial contaminada. “O emissário moderno exige muito planejamento e muito estudo para atender todos os protocolos de saneamento e saúde pública. Por isso, não há nada o que temer em um emissário bem projetado. E o Brasil tem uma grande capacidade técnica e está bem abastecido para construir e garantir que esses sistemas cumpram a sua função”, completou.
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