Retrofit da Casa Niemeyer busca obtenção de selo internacional de sustentabilidade
Fundação Vanzolini é responsável pelo processo, que propõe um novo olhar para a sustentabilidade nas construções brasileira
Quando pensamos em uma casa projetada nos anos 1950, não imaginamos que ela pode ser uma casa sustentável. É exatamente essa inovação que busca o Projeto Habitas com a reforma e retrofit (modernização de um imóvel antigo) da Casa Niemeyer, localizada no Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA), em São José dos Campos (SP).
Uma das frentes de trabalho do Projeto Habitas é reformar a casa, projetada por Oscar Niemeyer (1907-2012), preservando o projeto arquitetônico original de modo que a inserção de tecnologias sustentáveis se adeque às características propostas pelo arquiteto.
Além de adaptar a edificação a normas sustentáveis modernas, o Projeto Habitas, em parceria com a Fundação Vanzolini, também busca alcançar o selo AQUA-HQE – uma certificação internacional da construção sustentável desenvolvida a partir da certificação francesa Démarche HQE (Haute Qualité Environnementale) e aplicada no Brasil exclusivamente pela Fundação Vanzolini.
Desde seu lançamento, em 2008, o Processo AQUA-HQE propõe um novo olhar para a sustentabilidade nas construções brasileiras: seus referenciais técnicos foram desenvolvidos considerando a cultura, o clima, as normas técnicas e a regulamentação presentes no Brasil, mas buscando sempre uma melhoria contínua de seus desempenhos.
“As construções sustentáveis nascem no projeto, quando são adotadas as melhores soluções arquitetônicas e técnicas para o conforto e saúde dos usuários com o menor impacto ambiental. Com esse enfoque, a disponibilidade de novos produtos, sistemas e processos construtivos – com melhor desempenho funcional, durabilidade e baixo impacto ambiental – é fundamental para que os arquitetos e engenheiros possam desenvolver os projetos com o aproveitamento ideal dessas soluções”, afirma Manuel Martins, engenheiro e coordenador executivo do processo AQUA-HQE.
Um novo olhar para a construção civil
A inquietação com o investimento público em edificações não sustentáveis é o principal motivo que levou um grupo do ITA (Instituto Tecnológico de Aeronáutica) a criar o Projeto Habitas. E a Fundação Vanzolini compartilha a mesma missão.
Martins diz que, de maneira geral, “o setor da construção civil no Brasil ainda não adota, como base, cinco práticas”, que são: estabelecer um sistema de gestão integral para garantir o planejamento do empreendimento em todas as suas fases; pensar no contexto do empreendimento e seu entorno antes de definir o programa funcional e ambiental; desenvolver o pré-projeto com a participação integrada de todos os envolvidos; desenvolver o projeto executivo do empreendimento e do seu processo construtivo, com base nas definições do pré-projeto; e executar a obra de acordo com o projeto executivo.
Segundo o engenheiro, algumas medidas necessárias para que a sustentabilidade se pulverize cada vez mais no setor são, por exemplo “adotar a gestão integrada de todo o processo, desde a ideia inicial e escolha do terreno, passando pela definição do produto, pré-projeto, projeto e execução, até a entrega, com planejamento e controle em todas as fases”. “Pensar, planejar e controlar para definir os objetivos de sustentabilidade do projeto, e garantir sua efetiva realização, representa uma mudança na cultura não apenas da construção civil, mas do próprio país”, afirma Martins.
Projeto Habitas
Criado a partir da comunidade acadêmica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), o Projeto Habitas tem como finalidade contribuir para uma melhor compreensão de técnicas, métodos e tecnologias sustentáveis no âmbito da administração pública, estabelecendo um novo sistema a ser adotado nas reformas e novos projetos de edificações públicas. Contempla a reforma de duas edificações do campus do DCTA, em São José dos Campos (SP). A primeira parte compreende uma reforma de prédio residencial (projetado por Oscar Niemeyer) cujo conjunto de obras está em processo de estudo no IPHAN, para o futuro reconhecimento como patrimônio cultural nacional e certificação AQUA-HQE. A segunda visa uma mudança da destinação de uma edificação no campus para uma Casa de Cultura & Sustentabilidade, com certificação AQUA-HQE e Living Building Challenge.
Casa Niemeyer
Um dos prédios contemplados, a Casa Niemeyer é assim chamada em homenagem ao autor do projeto arquitetônico, Oscar Niemeyer (1907-2012). O conjunto da qual faz parte foi projetado com unidades residenciais maiores e de desenho distinto das demais residências no campus. As casas são geminadas, com dormitórios dispostos na fachada principal, o que configura dois pavimentos bem marcados e reforça a ideia da permeabilidade do conjunto em função do recuo da sala de jantar, da varanda com pilotis e do jardim lateral que interliga as áreas ajardinadas da frente e do fundo do bloco.
A reforma preserva o projeto arquitetônico original, de modo que a inserção de tecnologias sustentáveis se adequa às características propostas por Niemeyer. O objetivo é que a residência ganhe características sustentáveis, alcançando a certificação AQUA-HQE – que propõe um novo olhar para sustentabilidade nas construções brasileiras, buscando sempre uma melhoria contínua de seu desempenho.
Parceiros
O Projeto Habitas conta com a participação inicial de diversas empresas: Fundação Vanzolini, Otta Albernaz Arquitetos, LarVerdeLar, Conecte Solar, Comfise, Enactus ITA, Natus Garden, My Zeal Design de Interiores, Athena Projetos Executivos, OHL Energia Fotovoltaica, Regavale e Leal Energia.
Também integram a equipe, com aporte de materiais e recursos, a Amanco, Bidim, Wavin, Saint-Gobain, Deca, Hydra, Weg, General Water, Honeywell, Elgin, TecSUS, Litoral Engenharia e BYD. Diversas outras empresas sinalizaram participação e estão analisando sua entrada no projeto.